segunda-feira, 16 de junho de 2014

Lírica


 
 
 






Não posso chegar à beira do sentimento,
naquilo que vive em latência e amor da vida construída.
Mas, posso chegar aos limites do meu sentido
a olhar pelos caminhos percorridos.

E perceber que a causa das coisas
são muito além que a causa das coisas,
e que nas divagações do pensamento
estão a leveza da pena e o tinteiro.

Tem na melodia que abarca este espaço,
amplo em seu silencio,
a memória de um tempo não vivido.
Preenchido com a acústica dos instrumentos.


Tempo este talvez mais calmo.
Sem trombetas e cavalos cavalgando, nas auroras flamejantes,
mas com a calma daqueles que caminham pelos prados
ainda sabendo-se quem se é.

Tenho em mim um tempo,
e muitos outros,
que me espreitam nas frestas dos dias,
e me acolhem na intimidade da noite.

Como um lençol branco tem em si
a ternura das nuvens,
abraçando o corpo cansado de um dia.

Em algum lugar, um tempo amanhece.
Em algum lugar, a boca da noite sonha em lírios.
Até derivar-se em si mesmo,
Num tempo indissoluto.





segunda-feira, 2 de junho de 2014

ocultado

 
 
 


Saint Panteleimon the Healer 1916. Nicholas Roerich





O dia amanhece como se fosse tarde
Como se tardio o compasso do coração
estremecesse como o cair das folhas na serenidade do lago

um dia clareia as frestas das matas
como quem olha de baixo o sol se movendo
sem poder acompanhar sua rota
apenas a parca entrada da luz que as folhas
deixam entrar com a dança dos ventos

até o instante em que a atividade
e o sopro forte do pensamento
faça da deciduidade seu ponto máximo
de entrada de luz
ao solo sonolento

e os veios d'agua mais secos que outrora
façam do sentimento não mais a estiagem da espera

como o passeio calmo do gado sob as estrelas
nas trilhas enluaradas
saciando a sede no reflexo do lago

a chover no inverno
destes dias inusitados.